domingo, 1 de novembro de 2015

O que ocorre na ante-sala da morte




Acostumados a lutar contra a morte, dificilmente se esperaria, de profissionais racionais como os médicos, uma reflexão ao estilo de Hamlet, de Shakespeare, diante do fantasma de seu pai, sobre o que pode acontecer depois que a consciência abandona o corpo. Nos últimos tempos, porém, quando se tornaram freqüentes os casos em que massagens cardíacas e estimuladores elétricos restauram a consciência ou a vida de indivíduos clinicamente mortos, a discussão tornou-se obrigatória.

Nas conversas nos corredores dos hospitais, cirurgiões e anestesistas, a contragosto e quase se desculpando, relatam histórias de pacientes que se lembram do que sentiram e viram nos minutos em que pararam de respirar e o cérebro não estava mais recebendo oxigênio. Mais pragmático que seus colegas, o cardiologista holandês Pim van Lommel resolveu dar a essas conversas um tratamento científico. Lommel compilou entrevistas com pacientes que 'passaram para o lado de lá' e voltaram. A experiência foi publicada na respeitada revista médica inglesa The Lancet e causou controvérsias no mundo todo.

Não por acaso cientista proveniente de um país onde a eutanásia é praticada com mais desembaraço do que em outros lugares, o holandês Lommel juntou-se a um punhado de especialistas acostumados a mexer com temas mais familiares hoje em dia aos místicos, paranormais e, infelizmente, aos aventureiros e ilusionistas, do que aos médicos. As conclusões a que chegou são consideradas no mínimo impressionantes.

O cardiologista entrevistou 344 pacientes de dez hospitais da Holanda que tinham sido considerados clinicamente mortos – condição estabelecida a partir de um eletrocardiograma. Para os médicos, uma pessoa é considerada clinicamente morta quando o cérebro não recebe suprimento suficiente de sangue, como resultado de falta de circulação, oxigenação ou de ambos. Nesses casos, se não forem realizadas tentativas de ressuscitação em um prazo de cinco a dez minutos, os danos cerebrais tornam-se irreparáveis e não há como sobreviver. Dos pacientes entrevistados, 62, ou 18%, disseram ter passado por uma experiência que os estudiosos chamam de quase-morte. Os outros 282 não lembravam de coisa alguma do período em que estiveram inconscientes.

Nos casos de lembrança, as pessoas relatam diversos tipos de visões. As mais comuns são sensações de se ver fora do corpo, a percepção de uma luz em um túnel escuro, o encontro com amigos e parentes queridos já mortos e a revisão da própria vida em flash-back. Os relatos não são originais. Desde que o assunto começou a ser estudado pelo americano Raymond Moody, em 1975, os estudiosos perceberam que as lembranças, embora não sejam idênticas, obedecem a um mesmo padrão. Isso ocorre, notaram os estudiosos, mesmo em diferentes culturas. Pessoas em estado terminal, com câncer ou Aids, ou que entraram em coma em conseqüência de acidentes, tentativa de suicídio etc. também relataram experiências similares.

Os relatos se repetem

Embora não sejam idênticos, os relatos de pessoas que disseram ter passado por uma experiência de quase-morte (near-death experience, ou NDE, em inglês) têm muitos elementos em comum, conforme foi observado pelos estudiosos desse tema. A seguir, são descritas algumas dessas semelhanças:

Projeção do corpo – A sensação de que a pessoa deixou o corpo e está pairando acima dele. Ela pode mais tarde descrever quem estava no local e o que aconteceu.

Movimento em um túnel – A sensação de se locomover em um túnel escuro.

Bem-aventurança – Lembrança de ter sentido uma emoção profunda. 

Visão de luz – A sensação de ir de encontro a uma luz, descrita como dourada ou branca, que exerce profunda atração.

Encontro com pessoas já mortas – Podem ser pessoas muito queridas que já morreram, reconhecidas ou não, seres sagrados, entidades não identificadas ou 'seres de luz', muitas vezes símbolos da própria religião.

Revisão da própria vida – A sensação de ver ou reexperimentar eventos significativos ou triviais da própria vida, algumas vezes sob a perspectiva de outras pessoas envolvidas. Como resultado disso, a reformulação das próprias opiniões sobre as coisas e mudanças que serão necessárias caso tenha uma segunda chance.

Entendimento – A sensação de entender tudo, de saber como o Universo funciona.

Obstáculo – A sensação de ter chegado a um penhasco, cerca, água ou algum tipo de obstáculo que não pode ser cruzado se a pessoa pretende voltar à vida.

Retorno à vida – A decisão de voltar a viver é voluntária e normalmente associada a alguma tarefa que ficou inacabada ou à existência de filhos.

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