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domingo, 22 de agosto de 2021

SOBRAL, A TERRA DAS CENAS FORTES




Não foi por acaso que a nossa Sobral ganhou o cognome de “A terra das cenas fortes”, denominação esta criada pelo ilustre engenheiro sobralense José Lourenço Mont´Alverne. E para confirmar o que estamos a falar, vejamos esta historinha que passarei a contar aqui:
Durante minha infância e juventude, todo o tempo em que residi na Princesa do Norte, terra que me serviu de berço, nunca ouvi falar que por lá tivesse passado alguma equipe de basquetebol competitiva, de bom nível técnico, a ponto de ter competido, em condições de igualdade, ou coisa que o valha, com equipes da Capital cearense. Aliás, nunca ouvi falar que em nossa Princesa do Norte o basquetebol local viesse a ser movimentado.
Dias Lopes - cronista esportivo sobralense.
O basquetebol sobralense, pelo menos o da minha época, em especial nos anos 1950, não existia. O que existia era tecnicamente muito fraco. Caminhava aos trancos e barrancos, graças ao esforço do Professor Manoel Elisio Feijão, no Colégio Sobralense, e contava com o apoio de alguns poucos interessados, entre os quais o Raimundo Helder “Mompechê”, irmão do Geraldo Magela Ponte e do Pilska, o Tião Vieira, irmão do Zé Gobinha, o Aloisio, sobrinho do Mons Aloisio, o diretor do colégio, e mais alguns outros alunos do Colégio Sobralense, cujos nomes não consigo lembrar, pelo menos de momento. Essa equipe, do “Sobralense” realizava seus treinamentos, sob o comando do Prof. Manoel Feijão, na quadra central do referido estabelecimento de ensino; uma quadra localizada no interior do pátio centro daquele estabelecimento de ensino. Uma quadra simples, com piso de cimento, onde aconteciam os principais eventos promovidos pelo referido estabelecimento, inclusive confrontos de bola ao cesto, os quais colocavam frente a frente equipes formadas por alunos daquele colégio. Nada mais do que isso.
Os esportes coletivos que despertavam o interesse da cidade eram o futebol, disparado em primeiro lugar, e o voleibol, que vinha em segundo lugar na preferência da “galera”, mas bem lá atrás. Cero é que o basquetebol não tinha vez, nem se quer era lembrado. Posteriormente, em meados da década de 1950, foi que na Princesa do Norte se iniciou a prática do futebol de salão, graças ao grande incentivo dado pela Associação Atlética Banco do Brasil.
Durante o tempo em que vivi no meu torrão natal, um pouquinho mais de 20 anos, sempre acompanhei com grande interesse o desporto local. Eu gostava de tudo, em especial do futebol e do voleibol. Acompanhava estas modalidades muito de perto, comparecendo a todos os jogos, em sua maioria o futebol, que era o mais praticado na cidade, inicialmente no “campo do Prado”, na parte centro do hipódromo, e posteriormente no famoso “campo da CIDAO”, bem próximo ao campo de aviação. Os jogos de voleibol aconteciam em uma quadra que ficava na Rua Senador Paula, atual Av. Dom José, em frente à residência do Professor Luiz Jácome. O voleibol sobralense tinha como grande incentivador o sr. Gutemberg Rios.
Acompanhei o esporte sobralense, em todas as modalidades, com intensidade. Em especial porque atuei alguns anos na crônica esportiva local, como integrante das equipes esportivas da Rádio Educadora do Nordeste, ao lado de Raimundo Frota Lima, Edmilson Sousa, Francisco Cândido Nascimento, o “Brilhantina”, Francisco Pinto, Maurício Santana, Otto Lima e Manoel Marques, e Rádio Iracema, juntamente com Ribamar Coelho, Felipe Humberto, Neutônio Vasconcelos, Fernando Solon, Onofre Viana e mais alguns outros amigos contemporâneos.
Mesmo assim, acompanhando com profundidade o esporte de nossa cidade, nunca ouvi falar, volto a repetir, tenha a Princesa do Norte, em tempo algum, possuído uma equipe de basquetebol competitiva. Aliás, basquetebol era uma palavra que nem mesmo existia “no dicionário do esporte sobralense”. Eu acompanhava o basquetebol pelo rádio, ouvindo as emissoras do Rio de Janeiro que transmitiam os jogos da Seleção Brasileira. Eu era um apaixonado pela modalidade, nem sei mesmo explicar como, uma vez que na minha cidade não se praticava esta modalidade.
Descobri esta notícia que fala sobre o time de basquetebol da antiga Escola de Comércio, através de um amigo residente em Viçosa do Ceará, um pesquisador esportivo, o Pedro Neto, que me enviou pelo e-mail um recorte do jornal A Razão, falando sobre a participação de uma equipe sobralense nesse torneio promovido pelo Náutico. Esta informação me aguçou a curiosidade e me fez ir direto buscar mais detalhes. Foi aí que descobri que a modalidade de basquetebol já foi praticada em Sobral, até mesmo em competição. Só ainda não entendi o motivo porque, na Princesa do Norte, nunca se falou sobre isso. Eu, ao tomar conhecimento deste fato, procurei vários amigos sobralense com o objetivo de saber se algum deles tinha conhecimento deste fato e todos eles me responderam negativamente. Ninguém, mas ninguém mesmo, pelo menos entre esses meus amigos, conhecedores profundos do esporte sobralense, tinha conhecimento deste fato.
Já indaguei a vários amigos e conterrâneos sobre este evento e sobre o basquetebol sobralense dessa época, e ninguém, mas ninguém mesmo, soube me responder. Continuo no aguardo do pronunciamento de alguém, em especial dos afeitos à história do esporte da Princesa do Norte. Mas eu não desisto. Vou continuar buscando dados sobre como foi esse período em Sobral e, por qual motivo, na nossa cidade nunca se falou sobre esse assunto. Um assunto interessantíssimo, em especial porque Sobral, sendo convidada para participar desse evento promovido pelo Náutico Atlético Cearense, constituiu-se na primeira cidade do interior do estado a tomar parte em um evento desse nível, na Capital. Um motivo de orgulho, mesmo porque segundo o próprio jornal A Razão, teve um excelente desempenho e mereceu os maiores elogios. Vejam o que falou aquele jornal:
Sobral, foi a primeira cidade do interior a participar de um torneio estadual de basquetebol masculino, competindo com as equipes da Capital, um fato inédito para a época. Isso aconteceu há exatos 84 anos, em setembro de 1937, quando a equipe sobralense da Associação dos Empregados do Comércio de Sobral, disputou um torneio de basquetebol em Fortaleza, a convite do Náutico Atlético Cearense, o patrocinador do evento.
Esse torneio cujos jogos aconteceram na quadra do Liceu do Ceará, no dia 7 de setembro de 1937, marcou época no basquetebol cearense. Constitui-se no primeiro torneio intermunicipal do estado do Ceará. Aconteceu um ano antes da fundação da Federação Cearense de Basquetebol.
A equipe sobralense viajou para Fortaleza no dia 2 de setembro, quatro dias antes da realização do referido torneio, comandada pelos professores Maurício Mamede e Pinto Filho, na parte administrativa, e levou como técnico Artur de Oliveira Correia, um fortalezense que foi residir temporariamente em Sobral. Esse cidadão, que jogava futebol no Fortaleza Esporte Clube, também praticava o basquetebol, e foi quem incentivou a prática desta modalidade na Princesa do Norte. Além de responder pelo comando técnico, Artur também atuava como jogador. Integravam o elenco da Associação dos Empregados do Comercio de Sobral os seguintes atletas: Artur, José, Aragão, Alverne, Humberto e mais Carneirinho deirão, Elias, Vicente e Gomes. Esses últimos quatro nomes não nos parecem afeitos à nossa cidade, mas vamos tentar descobrir se eles realmente faziam parte do elenco sobralense.
Na estreia desse quadrangular, o quinteto da Escola de Comercio de Sobral derrotou a equipe do Corpo de Bombeiros por 5 a 3, e na sequencia perdeu para o Grêmio Sportivo Cearense por 8 a 3 e para o Náutico Atlético Cearense. O resultado do jogo Náutico e Escola do Comercio, não foi publicado pelo jornal A Razão, de Fortaleza, um jornal político que pouco se interessava pelo o esporte, mas que foi quem divulgou esta notícia sobre o referido torneio.
O representante sobralense naquele torneio quadrangular promovido pelo Náutico, foi muito bom. Segundo texto publicado pelo jornal A Razão, o qual transcrevemos na íntegra, foi surpreendentemente agradável a apresentação do quinteto sobralense. Vejamos a seguir o que disse o referido jornal sobre o basquetebol apresentado pelo time sobralense:
“A estreia do conjunto da Associação dos Empregados do Comércio de Sobral foi a melhor possível e destacamos no seu conjunto como elementos de futuro o atacante Dijose e o defesa Alverne, que apesar de ser de estatura baixa desenvolveu uma atuação digna de elogios, podendo para o futuro ser um dos melhores basket-ballers do nosso Estado. "À Associação dos Empregados de Sobral, os nossos mais sinceros parabéns pela brilhante vitória conquistada contra o conjunto dos Bombeiros e pela brilhante atuação desenvolvida contra o formidável e velho quadro do Náutico Atlético Cearense".
O basquetebol, naquele momento, ao final da década de 1930, era um esporte de elite. Uma modalidade praticada em todo o Brasil, de norte ao sul, de leste a oeste, pelos clubes sociais mais “badalados” do País. Estava chegando ao Ceará, ainda engatinhava, mas já despertava um grande interesse, em especial na área social, na chamada elite, fato que muito “mexia” com a sociedade sobralense. E porque será que em Sobral ele não progrediu, não foi à frente?

Matéria extraída da página do Facebook denominada História de Sobral, de Santana Júnior.

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