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domingo, 30 de abril de 2017

Apenas um rapaz latino americano



Hoje eu quero lhes falar de algumas coisas que aprendi nos discos. Quero lhes contar um pouco do como eu vivi e do que aconteceu comigo durante os anos em que percebi que viver é melhor que sonhar.

Se a música como instrumento de transformação através do debate, da reflexão e da mudança, teve um representante inconteste nestes últimos anos, seu nome é Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes. 

Combatente de idéias, de sons, de imagens, Belchior ajudou a escrever a história recente deste país com as letras da coragem, da luta, da paixão e do lirismo, tão características do povo cearense.

Nesta tarefa, teve o desprendimento de partilhar conosco seus sonhos de um mundo mais humano, mais digno, mais igual. E quando digo “conosco”, o faço por ter tido o privilégio de ser um daqueles rapazes latino-americanos que ainda nos anos 70 e 80, embriagados pela poesia e a musica, teimava em sorrir e sonhar. 

Sim conterrâneo, se você vier me perguntar por ande andei no tempo em que você sonhava, de olhos abertos lhe direi: amigo eu também sonhava. 

E se hoje Belchior, eu e tantos outros não dizemos mais: saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixem que eu decida a minha vida, é porque pessoas como você teimaram em resistir, em cantar, para que nós pudéssemos estar, agora, a exercitar a democracia. 

Mas não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve: correta, branca, suave, muito limpa, muito leve. Porque esta é tarefa sua. Porém, conte comigo para manter acesa essa chama que tens alimentando com teus versos. É... Belchior, o tempo andou mexendo com a gente sim. 

Só que hoje, não nos sentimos mais cansados daqueles anos passados, presentes, vividos entre o sonho e o som. Quando não podíamos falar palavras sobre essas coisas sem jeito. Sei, e sabemos todos nós, que você já sente e vê que uma nova mudança vem acontecendo. Aliás, tudo muda, e com toda razão. 

O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo. Sim, estamos todos rejuvenescendo. Nossos ídolos podem até ainda serem os mesmos, mas no presente a mente, o corpo é diferente. E, com certeza, o passado é uma roupa que já não nos serve mais. 

Não tenho ouvido muitos discos, mas tenho conversado com pessoas, caminhado o meu caminho. E, deixando a profundidade de lado, digo que estou encantado com esse momento em que paro para falar de você, para te dizer obrigado! 

E o obrigado não é apenas porque você foi quem nos deu a idéia de uma nova consciência e juventude. Mas sim, porque você teimou em não se manter apenas como um cidadão comum, como esses que se vêem nas ruas, vivendo o dia e não o Sol, a noite e não a Lua. Pelo contrário, lutou, e continua lutando para que todos,  independente de onde estiverem, de onde viverem, tenham direito a sentir este Sol e esta Lua, com o mesmo brilho. 

E especialmente para nós, que vivemos embalados nas mesmas velas do Mucuripe que no passado, ao sair para pescar, levaram aquele rapaz novo encantado, de sorriso ingênuo e franco, a quem o Corcovado abriu os braços e recebeu. Velas que hoje, passados mais de quarenta anos, retornam sem tua presença, sem teu ecoar. 

Mas onde quer que estejas, receba Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes, o nosso muito obrigado! Obrigado pela partilha dos sons, dos sonhos, das letras, das artes. Obrigado por nos ter inspirado ao longo desses anos todos. 

Francílio Dourado Filho
francilio@e2estrategias.com.br
85 98681.6582

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